sexta-feira, julho 30, 2010

Dorgas, Manolo!


Já que o assunto ultimamente (sempre!) vem sendo a ausência de lucidez do nativo da terrinha BR, reproduzo abaixo uma ácida crônica ao melhor estilo Veríssimo. No vasculho de meus empoeirados arquivos achei-o jogado num canto de pasta. Leia, releia, re-releia... quantas vezes for necessário, e, procure tornar nossa convivência social tupiniquim, digamos, mais agradável.

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O USO DE DROGAS
(Luiz Fernando Veríssimo)


Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de experimenta, depois quando você quiser é só parar..." e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", da terra, que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do Chitãozinho e Xororó e em seguida um do Leandro e Leonardo. Achei legal, uma coisa bem brasileira. Mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de "amigo" e acabei comprando pela primeira vez. Lembro que cheguei na loja e pedi: - Me dá um CD do Zezé de Camargo e Luciano. Era o princípio de tudo! Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um CD de Axé. Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... Banda Eva, Cheiro de Amor, Netinho, etc. Com o tempo, meu amigo foi me oferecendo coisas piores... o Tchan, Companhia do Pagode e muito mais. Após o uso contínuo, eu já não queria saber de coisas leves, eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer os quadris como eu nunca havia mexido antes. Então, meu amigo me deu o que eu queria, um CD do Harmonia do Samba. Minha bunda passou a ser o centro da minha vida, razão do meu existir. Pensava só nessa parte do corpo, respirava por ela, vivia por ela! Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais... Comecei a freqüentar o submundo e correr atrás das paradas. Foi a partir daí que começou a minha decadência. Fui ao show e ao encontro dos grupos Karametade e Só Pra Contrariar, e até comprei a Caras que tinha o Rodriguinho na capa. Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro. Meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo. Não deu outra entrei para um grupo de pagode. Enquanto vários outros viciados cantavam uma música que não dizia nada, eu e mais outros 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorríamos e fazíamos sinais combinados. Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas Americanas e pedi a Coletânea "As melhores do Molejo". Foi terrível! Eu já não pensava mais!!! Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas miseráveis e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava em mais nada. Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, ao limiar da condição humana, quando comecei a escutar popozudas, bondes, tigres, MC Serginho, Lacraias, motinhas e tapinhas. Comecei a ter delírio e a dizer coisas sem sentido e quando saía à noite para as festas, pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas que queriam me mostrar o caminho das pedras... Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: Ki-Kokolexo. Hoje estou internado em uma clínica. Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento está sendo muito duro doses cavalares de MPB, Bossa-Nova, Rock Progressivo e Blues. Mas o médico falou que eu talvez tenha de recorrer ao Jazz, e até mesmo a Mozart, Beethoven e Bach. Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam no dinheiro. Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam a visão para as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não reagir, vai acabar drogado, alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável, distante. Vai perder as referências e definhar mentalmente. Em vez de encher a cabeça com porcaria, pratique esportes e, na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte: Não ligue a TV no domingo à tarde; Não entre em carros com adesivos "Fui....."; Se te oferecerem um CD, procure saber se o indivíduo foi ao programa da Hebe e ou ao Domingo Legal do Gugu; Mulheres gritando histericamente são outro indício; Não compre um CD que tenha mais de 6 pessoas na capa; Não vá a shows em que os suspeitos façam passos ensaiados; Não compre nenhum CD que tenha vendido mais de um milhão de cópias no Brasil (triste colocação...), e... Não escute nada em que o autor não consiga uma concordância verbal mínima.

A vida é bela! Eu sei que você consegue!
Diga não às drogas!

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PS - Passeie com seu cérebro. Leia mais crônicas do cara: http://bit.ly/bMN5SV

terça-feira, julho 27, 2010

Waters & Gilmour: pra se entorpecer...

... ouvindo Pink Floyd...


Roger Waters e David Gilmour se constituem, para este humilde par de ouvidos, na melhor dupla de criação musical que vi (pelo menos em vídeo...), sem desmerecer os outros floyds (Richard Wright e Nick Mason), desfaçamos uma tremenda injustiça. O Waters possui um universo intelectual e espiritual atormentado, refletido em suas letras e sugestões de melodias. É neste último viés que entram os outros floyds, destacando o Gilmour. Eles protagonizaram a concretização em som de todo esse devaneio. Trazem, nesse processo, novos elementos, sobretudo melódicos.

Pronto. Cheguei onde queria. Os caras puseram LIMITES NO WATERS. Quer prova disso? Escute o disco The Wall, nesse aspecto, e veja se não difere dos anteriores. Nota: Nesse momento, o Waters havia tomado quase que total controle nas decisões da banda, inclusive as musicais. Se não se convenceu, escute o Final Cut (último disco da era Waters no Pink Floyd... depois mandaram ele 'dar descendo'...). Praticamente um disco solo do Waters, com os outros quase que somente acompanhandom (faltava-lhes apenas um crachá...). O disco é uma depressão completa. Fantástico, diga-se de passagem. Mas já não é mais o som floydiano a qual me referi no início. O som de Breath, Time, Dogs, Echoes, COMFORTABLY NUMB, etc. - esta última (anterior a eticetera), o ápice da agonia, no contexto dO MURO que construímos através dos tijolos que a vida moderna põe à nossa volta. TODO ESSE CONCEITO - DO WATERS, ALIADO À HARMONIA DOS ARRANJOS DE CORDAS - DO GILMOUR, COM OS SINTETIZADORES E PIANOS - DO WRIGHT, SOMADA A BATERIA SIMPLIFICADA E PERFEITA - DO MASON, FAZEM DESSA MÚSICA UM PRIMOR, UM ÁPICE DA MÚSICA POP (favor não confundir com outras definições de pop, como sendo somente uma batida eletrônica numa música dançante ou 'piegamente' romântica).

Mas, para isso se tem um preço. A fama, o dinheiro e o luxo evidenciam a fogueira das vaidades. Verdadeiras intrigas rondaram a relação interna da banda, principalmente entre os frontmans (Waters e Gilmor). Tais fatos levaram o Waters a 'sair' do Pink Floyd. Mesmo assim, passados mais de 20 anos, a banda reune-se pra tocar 4 músicas no Live 8 (evento beneficente organizado pelo Bob Gendolf - curiosamente o cara que fez o papel do protagonista do filme, feito do disco The Wall -, em 2005). Dava pra notar o ressentimento na cara do Gilmour, mesmo depois de tanto tempo, enquanto se via um Waters feliz igual a 'pinto em beira de cerca'. Cena hilária.

O fato é que agora, em 2010, o Waters estará em tournée pelo mundo apresentando o show "The Wall". E não é que o Gilmour fará participação especial (pelo menos num show só), tocando Comfortably Numb???


O que idade não fizer...



PS¹ - Vejam a notícia: http://vai.la/UKv

PS² - Meu Deus, como eu queria que isso viesse ao Brasil... Quem sabe?! Se rolar, OS AMIGOS E AS AMIGAS TERÃO UMA CASA A MAIS NO MERCADO IMOBILIÁRIO...


terça-feira, julho 13, 2010

Dia Mundial do Rock


Hoje (13/07) é comemorado o Dia Mundial do Rock. Que o exemplo de preocupação social do dia (essa data faz alusão ao evento Live Aid, evento realizado para angariar grana à ajuda humanitária à África), independentemente de politização, norteiem os roqueiros de alma. O Rock - assim como um punhado de muita coisa - não vai salvar o mundo (em alguns casos muito pelo contrário, hehe), mas representa a cultura de um mundo que, desde os anos 50, passou por profundas transformações de comportamento. Isso deve ser lembrado.

Uma característica deve ser anotada nesse momento de universalização total da cultura de massa, tratada como um mero produto embalado e posto na vitrine. Aliás, a vida como um todo... Nada de voltar ou querer ser igual a uma época. Não. Simplesmente é ressuscitar seu umbilical posicionamento acerca de tudo: REBELDE POR EXCELÊNCIA. Em qualquer aspecto da vida... Cada um é soberano pra decidir o que deve ou não ser transgredido. Essa é grande mensagem do Rock'n'Roll.

No mais, é ligar a vitrola e cair na gandaia que ninguém é de ferro.


Morreu Paulo Moura



(São José do Rio Preto, 15 de julho de 1932 - Rio de Janeiro, 12 de Julho de 2010)

O mundo da música de luto...

Pouca Vogal in João Pessoa


Caramba... Queria estar in Jampa, sexta última (09/07). Gostei do projeto Pouca Vogal desde o início. Acho um lado que o Gessinger ainda faltava explorar em sua carreira musical. Uma coisa sem banda (no sentido popular da palavra, com bateria e o 'escambau'), mais ligada a uma música de caráter mais intuitiva, com 'instrumentos leves', sem toda aquela parafernália estrutural de um evento. O próprio Roger Waters fala desse aspecto, no tocante àquela coisa monstruosa de estádios onde o artista, de certa forma, perde o contato com o público, que por sua vez se deslumbra com a mega-estrutura e perde as mensagens do trabalho artístico. Não que outros formatos de shows obrigatoriamente sejam diferentes, mas o formato 'light' (banquinho, violões, violas, guitarras acústicas, etc) propicia isso, pelo menos, mais intensamente. Uma coisa com cara de teatro, tendo uma característica peculiar: OS DOIS, o Gessinger e o Leindecker (líder da banda gaúcha Cidadão Quem, co-autor do Pouca Vogal), como eles mesmo dizem, EM POWER DUO, PREENCHENDO O SOM COM PERCUSSÃO E SINTETIZADOR, tocados com os pés - diga-se de passagem, JUNTO ÀS CORDAS E PIANO. O show conta com convidados. Nesse show foi o Carlos Maltz, ex-baterista dos Engenheiros do Hawaii e metaleiro, hoje com a cabeça virada em misticismo e congêneres.

Pra quem não conhece, esse é o Teatro Arena do Espaço Cultural, em João Pessoa, capital da terrinha.

Deve mesmo ter sido um dos melhores shows que não fui.


PS¹: Dêem uma sacada: http://www.youtube.com/watch?v=VG5AIBrqUUU

PS²: O nome "Pouca Vogal" é justamente em alusão à pouca quantidade de vogais (nos padrões latinos) nos nomes dos dois - GeSSiNGer e LeiNDeCKeR.

Deu Espanha...



Ganhou o melhor time. O melhor meio campo da Copa, pelo menos. Por questões de justiça, digamos que a final deveria ter sido entre Espanha e Alemanha. Mas como futebol não é justo, é jogo, e, nesse caso, tabela, essa "final" foi precoce, nas semifinais. Mas ficou em boas mãos o título. Como a Copa sempre influencia o futebol nos quatro anos seguintes, esperamos que a tendência do futebol jogado prevaleça sobre a tese da retranca, do futebol não jogado. A Espanha provou que a coisa funciona com toque de bola e objetividade na hora certa. Beleza. Ironicamente é uma forma similar ao tradicional futebol holandês.


E não é que o miserável do polvo acertou todos os palpites?



PS: E a Holanda continua sem 'tirar do dedo', hehehehe.



quinta-feira, julho 08, 2010

Enfim... Prestes ao fim...


Sem torcida nessa final. Como um amante do futebol, vou torcer pra que ganhe o melhor. Também não há o que se lamentar, chegou quem fez por merecer. A Alemanha jogou muito, mas na final só há espaço pra dois (obviamente...). A Espanha, que engrenou, e a Holanda (que não é o Carrossel, mesmo), aos trancos e barrancos, chegam fortes. E não haveria outra forma de ser. Se bem que até que não seria de todo ruim ver a Holanda não quebrar seu tabú histórico: "jogamos como nunca e perdemos como sempre..."

Está decidido. Vou de fúria. Pronto.


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Na disputa pelo terceiro lugar, não hesito...



.. vou de celeste. Os caras honraram minhas calças latino-americanas, junto ao Paraguai (mesmo este último perdendo nas quartas). A única das quatro primeiras a qual tou torcendo firme.




PS - Espero não ser um azarão igual ao Mick Jagger... Putz, que cara 'zica'.

sexta-feira, julho 02, 2010

E foi-se o Hexa

Sinceramente... Estava convicto da nossa vitória. Fui trabalhar hoje cedo. Antes disso, já dava meu pitaco no placar. "É dois a zero e não quero nem conversa", exalava aos berros. Coloquei no Twitter, até. E o pior é que a coisa caminhava pra isso. A seleção fez, no primeiro tempo, a melhor partida dela na Copa. Meu placar já era pra estar em voga, no mínimo. Confiança não faltava a ninguém nas redondezas. Assisti na casa do Rubens com a galera. Todos/as estavam contagiados/as.

Bom... a estranheza começa já no apito inicial do segundo tempo. O Robinho veio do ataque pra defesa somente pra esculhambar aos berros um batavo caído. Aí veio o gol holandês daquela forma esquisitíssima, com falha do goleiro que quando vai à bola, chamo de 'bola de segurança'. Depois veio o segundo gol. Todos os jogadores da defesa parados. O ápice da insanidade foi a expulsão do Felipe Melo (que tecnicamente fazia uma boa partida dando uma belíssima assistência pro gol de matador feito pelo Robinho). Pra mim, foi aí que a casa caiu. O time perdidasso em campo. A Holanda que é um bom time (não acho essas coisas todas...) soube administrar. O resto é aquilo... E-l-i-m-i-n-a-d-o, com toda a desgraça e abatimento que isso significa pra gente da terrinha.

Nosso plantel nos honrou, sem dúvida. A derrota, apesar de bisonha, nada tem a ver com aquela palhaçada de glamour, em 2006. Mas o Brasil perdeu pra ele mesmo... Os caras perderam para suas próprias cabeças, seus próprios nervos.

Que venha 2014...

quinta-feira, julho 01, 2010

A Copa Pegando Fogo

Agora sim... Começou a Copa do Mundo. Espero que não saiamos logo no 'segundo' jogo, hehe. Sério. Chegamos àquele momento a qual o elemento 'rivalidade' impera a despeito da festa de congregação dos povos. Algumas escolas da pelota saíram, a exemplo da Itália e França (hehehehehehehe). As provocações dos adversários ganham a acidez dos duelos nos gramados. Pra quem curte futebol, esse é um momento único.

Estou confiante na Canarinha. Não damos espetáculo, mas vamos avançando. Se esse é o mote, que seja, ora bolas. Não é época de saudosismo. O Garrincha não joga amanhã. Portanto, força aos caras que estão lá. Queremos erguer o troféu e mostrar que ganhamos dos outros até quando jogamos de forma diferente do que antes era habitual. Claro que uma coisa necessariamente não tem a ver com a outra, mas o Dunga conseguiu inflamar os caras a jogar com garra. Isso por si só não ganha jogo, porém ajuda e muito a despertar o talento brasileiro. Sem contar que auxilia a cicatrizar e valorizar a derrota. Claro que nem vamos pensar nisso. Que venha a Holanda, então... como nos velhos tempos...

Amanhã é dia...