terça-feira, julho 30, 2013

Devaneios e Blues [edição II]

É um som que não te suga a alma, ao contrário, a desnuda. Ele não muda a essência do ser, mas a
escancara para si. Se tem algo que impulsione o vetor interior-exterior esse algo é o BLUES. Na solidão das noites sem graça, sem o convívio do amor em suas mais diversas nuances, o blues acalanta a dor. Mesmo aqueles que se furtam do convívio social por pura opção se utilizam dele - do blues - para trazer seu mais profundo "eu" à companhia. Mergulhar na emoção que o blues envolve nos faz conhecer esse "eu" que muitas vezes teimamos em não ser, seja por desconhecimento, confusão ou pelo excessivo exercício de mentir pra si.

O blues tradicional provoca isso talvez pela situação de negação ao todo exterior, característica de seu nicho social de nascença, dos camponeses do Delta do Mississípi ou na Chicago operária, ambas situações de miséria material e histórica da classe subalterna nos "States" do início do século XX (cena que não mudou muito). A crueldade e frieza da realidade da sociedade capitalista, sobretudo em contexto latino-americano, dão-nos perfeita sintonia com a turma do sul dos "States", provocando-nos rotas de fuga da realidade, de maneira depressiva e solitária ou lúdica e festiva, tudo sob cavalares doses de nitroglicerinas. Não irei, no entanto, ater-me ao vetor oposto, do exterior-interior (mesmo sabendo que dialeticamente tudo flui) da "encarnação" do mundo em que vivemos, dos muros e grades que a vida social nos impõe (o filme "The Wall" é uma ótima pedida pra mergulhar nesta perspectiva). A relação posta aqui é do indivíduo consigo mesmo e o empurrãozinho que o blues dá.

A apresentação de velhos amigos que o blues proporciona, do individuo com seu interior, é inspiradora. Por vezes perigosa, mas inspiradora. O "bate-papo" nem sempre é descontraído. Olhos são umedecidos a depender das percepções. As descobertas e suas consequentes reações podem não ser das mais auspiciosas. Gestos tresloucados até que pintam, uns suaves outros nem tanto. É um momento necessário de hibernação e reflexões, de viajar, superar a superfície. Pode parecer sinal de fraqueza ou coisa afim, mas é sinal de vida, sentir-se pulsante, soberano de si.

Tudo isso advindo de um som (!). Os acordes e pentatônicas melodiosas, a repetição do quadrado no braço da guitarra ou do violão, a base simples como deve ser a vida, o feeling do bluesman... O conjunto disso é trilha sonora do diálogo anunciado. Melhor não poderia ser. Não é a toa que ele fornece estética e, principalmente, atitude a outros fenômenos socioculturais forjados nas inquietudes sociais e humanas.

sábado, julho 13, 2013

Um senhor ainda mais jovem

Hoje é o dia daqueles que respiram Rock'n'Roll, mesmo tendo muitas razões pra questionar a data. Dia em que todos os paredões com aquelas (pseudo) canções enlatadas deveriam pelo menos calar seus alto-falantes estúpidos. E pensar que essa merda é uma derivação industrial do fenômeno musical parido nos anos 50. Seria pedir muito. Contudo, temos motivo pra comemorar. As cenas culturais se renovam, não mais com o fervor da indústria fonográfica, que possui prioridades outras. Acho que isso é bom, pois as coisas acontecem de forma alternativa e espontânea sem a influência de magnatas, que de arte entendem bulhufas... Na caso brasileiro, Recife pega fogo com as distorções plugadas ao resgate dos ritmos regionais. E não falta gente fazendo isso Brasil adentro. O sul também também se faz presente na cena com o vigor característico dos velhos tempos. O metal que (que para mim é Rock sim!) não pára de se reinventar. À margem dos padrões industriais, circuito de eventos com banda de Rock no meio é o que não falta.

Falar de Rock'n'Roll não é resumi-lo a distorções. Se por um lado se constituiu numa estética conceitual de certo modo delineada (a popular "turma de preto", por exemplo), por outro temos uma contraproposta histórica a um comodismo inerte gerador de lagartixas que tem como função primordial balançar cabeças e aceitar tudo goela abaixo. O rock historicamente age em contraponto ao senso comum e se caracteriza pelo inconformismo ao estabilshment. Esse é o conceito que adoto e dele procuro não me desprender. É só se remeter à dita poesia "rock". Nas palavras do Roger Waters, ex-líder do Pink Floyd, é "impossível se ter Rock'n'Roll sem ofender". De preferência, ofender os opressores...

Como academicamente e por gosto pessoal me remeto aos gigantes desbravadores desse tal fenômeno mundial dos idos dos 50' (com raízes ainda no século XIX - o blues, etc), a eles dedico as homenagens deste singelo, mas sincero, espaço. 

Dentre os cavaleiros da távola, o maior, em minha singela opinião...