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terça-feira, novembro 11, 2014

Espelho Retrovisor - Um Tributo aos Engenheiros do Hawaii

Saiu agora há pouco do forno a coletânea "Espelho Retrovisor", seleção de releituras de canções que fazem parte do vasto - porém seleto - repertório dos Engenheiros do Hawaii nos último quase 30 anos de carreira ("quase", pois a banda chega à casa do 3.0 janeiro próximo).

Minha relação de afeto com os discos e canções dos Engenheiros remonta a primeira vez que ouvi, na íntegra, o disco "O Papa é Pop", no não tão longínquo ano de 1990. Aquele estrondo musical de "Era um Garoto..." ou a diversidade de inserções melódicas de outras canções, sob forma instrumental e com vinhetas, ou até mesmo uma autoparódia no mesmo disco da canção original, ou, ainda, uma canção intencionalmente com voz em reverse (trás para frente)... Tudo isso era o que havia de mais progressivo no mundo para um garoto da periferia do ABC paulista, rodeado pela pasteurização vazia do samba e do sertanejo, protótipo da generalização "pop" que ocorreria em todos os estilos e manifestações musicais anos mais tarde. Sensação parecida me ocorreu, anos mais tarde, quando conheci a música progressiva enquanto um conceito de música, ao ouvir o Dark Side of The Moon, do Pink Floyd. Enfim, o ânimo juvenil de ouvir o Papa é Pop tomou conta de mim. A cada audição uma porta de percepção se abria para o moleque...

Não deixei mais de ouvir e pesquisar sobre a banda desde então. Uma das poucas bandas brasileiras que abriram show do Nirvana... Uma das pouquíssimas que rodou pela União Soviética (!)... Uma das únicas que nasceu no mesmo ambiente do Pink Floyd, uma escola de arquitetura. Esse ultimo fato talvez ajude um pouco a compreender a linguagem das canções dos Engenheiros, repletas de alusões metafóricas, por vezes antônimas. O disco Gessinger, Licks e Maltz sintetiza tudo de maneira sublime...

Apesar de achar forçação de barra dizer que a banda é engajada em questões políticas e sociais (o próprio Humberto Gessinger, líder da banda desde o começo, diz que suas canções "falam por si"), algumas músicas parecem-me de cunho altamente progressista ou libertário mesmo (O Sonho é Popular, A Violência Travestida Faz Seu Trottoir, Arame Farpado, A Promessa....). Enfim, ouvir Engenheiros é um exercício permanente e prazeroso de lidar com reticências...

O Tributo traz artistas da "nova guarda" da MPB e do cenário alternativo (nome que carece de maior definição nesses tempos de acesso a informação na palma da mão, com as bençãos divinas, sem precisar mais de Faustões e Gugus como em 1990), percorrendo toda a diversidade musical do Engenheiros, em suas diversas fases. De releituras próximas ao original à outras de grande variação rítmica e melódica. Como toda releitura que traz ressignificações ao original fica sob suspeita, principalmente quando se trata de algo que envolva tantas paixões como o universo musical, cheio de xiitas, penso que o resultado do disco é bastante satisfatório. A preferência por essa ou aquela canção vai de cada um. Valeu demais pelo conceito e pela justíssima homenagem.

Para maiores detalhes do disco, bem como o link para download, clique na imagem:



quinta-feira, agosto 28, 2014

Eleições 2014

Minha avaliação do debate dos candidatos à presidência da República realizado ontem:

1 - O Pastor Everaldo é a caricatura viva do Aécio covarde que não diz o que realmente faria caso eleito (possibilidade, ao que parece, cada vez mais distante): deixar que os mercados terminem de cuidar de tudo aquilo que envolve vida material. Na vida imaterial, prefiro nem comentar.

2 - A continuidade de discursos de campanhas de outrora: O candidato do PV querendo resgatar a performance do saudoso Plínio de Arruda Sampaio - sem o enorme conteúdo político deste; o PSOL que desconhece, ao meu ver, o conceito de pragmatismo; o PT e suas políticas trabalhistas e sociais que cada vez mais dão sinais de demandar mudanças estruturais, fato que contradirá sua outra política, a de governabilidade; o discurso zumbi neoliberal do PSDB que agora tem sua versão "da depressão" - o Pastor  Everaldo; e a "Marina 2.0", rodeada de alguns empresários e bancos, que supostamente unirá todos os interesses de classe por um mundo melhor sem dizer como conseguirá tal proeza inédita na história da humanidade.

3 - Os jornalistas da Band são exemplo claro e notório do monopólio da carcomida - mas ainda reinante - grande mídia brasileira. A pergunta sobre o "cerceamento de liberdade" que uma regulação supostamente poderia trazer revela aquilo que caracteriza nossa velha "prensa": o problema deles não é a concorrência de empresas - seus capitais se ajeitam, mas a concorrência de ideias que combatam o discurso político, econômico e ideológico uno.

quarta-feira, julho 23, 2014

Campanhas à moda da casa

Normalmente não sou de entrar no jogo da estrita política denuncista. Apesar de entender - ou achar que entendo - como a comunicação de massa funciona, via de regra, isso descamba em conflitos dignos de torcidas organizadas e seus consequentes "bate e voltas", fulminando em "diálogos" completamente inúteis.

Tenho pena de nós nos próximos meses. Enquanto o "bate e volta" ficará no primeiro plano, debates sobre ações "pra ontem", obras e serviços ficam em segundo. Políticas estruturantes, rumos da economia e dos direitos fundamentais (dois temas que definem meu voto nesta eleição), dentre tantas outras coisas, ficarão, como sempre, em terceiro, quarto, quinto planos. Tudo para prevalecer a secular lógica de uma sociedade de privilégios.

Política é muito mais que denuncismo... e a questão da corrupção, endêmica. O desafio é encará-las (política e corrupção) de frente. A Reforma Política que os movimentos sociais estão discutindo é um ótimo ponto de partida. Para saber mais: http://www.plebiscitoconstituinte.org.br/.

segunda-feira, julho 21, 2014

¿¿¿ Até quando???

Meu olhar de um aspirante a historiador (aspirante, já que ainda não stricto, como dizem alguns) manda não esquecermos dela, da história. Os palestinos paulatinamente desde a ressaca da segunda metade da década de 1940 perdem casas, terras, comunidade inteiras, em nome de uma reparação a um povo que, inquestionavelmente, sofreu barbáries com o holocausto e que, secularmente, possui relação bastante conflituosa com os ditos palestinos. Não elimino este fator dentre tantos outros. Certamente se trata de uma equação complicadíssima de resolução, ainda mais quando não se interessa em resolvê-la e que aqueles que deveriam usar de convenções mundialmente aceitas para resolver, em nome de escusos motivos geopolíticos e econômicos, utilizam-se da mesma perspectiva unilateral e genocida inspirada no nazifascismo do pré-guerra de 1939: o extermínio étnico.

É aquela onda: Temos um Estado, ao contrário deles. Vamos construindo nas terras deles, cercando, colocando o exército; construindo mais além, cercando, colocando o exército. Eles jogam umas bombas, nós chegamos com nosso poderio mortífero.


A lógica de que o governo de Israel apenas revida um ataque do Hamas*** sem maiores objetivos, destruindo tudo o que vê pela frente com armamento pesado que pouquíssimas nações detêm, dá a entender que aqui no Brasil seria justo e de direito dizimar cidades para acabar com o crime organizado, levando junto todos nós que moramos na vizinhança.

A cena: Um míssil e RIP, Cajazeiras!

Moral da história: "11setembrismo" reload... Bush mais vivo que nunca... Nações Unidas o baralho...

____________
***  Não, boys and gilrs, não estou defendendo este e suas táticas - aliás, é bom que se diga, Israel, no dia-a-dia, com "aquela onda", mais os incentiva que qualquer outra coisa.

terça-feira, maio 06, 2014

Como se "compreensível" fosse...

Como assim a história do "compreensível" daquela tal apresentadora do SBT não tem correlação alguma com o caso da mulher espancada até a morte no Guarujá?! Tem e muito. Claro que não é somente ela. Aliás, já disse antes que já deu falar nela. Ponto.

O site lá fugiu qualquer limite de humanidade. Não obstante, acaba dando nisso aí ao legitimar "a 'liga da justiça' ante a ineficiência do Estado governado pela 'búlgara bolchevique' (sic)."

Ineficiente o Estado é - a sociedade também, é bom que se diga (e são vários os motivos), mas achar que haverá "seleção natural" entre o que deve ou não ser objeto de revolta "justa e legítima da população cansada de tanta violência", acima de qualquer convenção, descamba nos perigos da prevalência do senso comum inflamado. É nitroglicerina pura! É criar uma guerra insana dentro de outra, com um final diferente daquele dos filmes hollywoodianos.

terça-feira, abril 08, 2014

Diálogo à moda da casa

Andei bem sem saco para escrever nos últimos tempos. Ando lendo uma porrada de coisas por aí, quase tudo sobre a conjuntura curiosa a qual vivemos. Nela percebe-se a iminência de algumas opiniões apaixonantemente insanas. Outrossim, nenhuma delas são comparadas aquele velho, tradicional e cada vez menos prestigiado meio de comunicação de massa: a TV aberta brasileira.

Recentemente vi uma louca notícia de uma criança de 9 meses presa no Paquistão. Meio que traçando paralelos, remonto a um debate socialmente relevante, porém, penso, pouco aproveitado em virtude da grande contribuição que o desserviço de alguns órgãos de mídia e seus porta-vozes nos acometem diuturnamente (sobretudo nesta conjuntura): a questão da maioridade.

Tem muita coisa séria escrita e dita por gente bacana e que entende e colabora decisivamente a discussão, apontando prós e contras, focando no papel que a educação tem no desenrolar das gerações, dentre outras questões cruciais. Não terei a pretensão, por hora, de trazer essas pessoas e ideias que, repito, são interessantíssimas ao debate. A intenção desse post é um tipo de debate em específico.

Na falta de internet aqui em casa (caiu o sinal de novo), ligo a TV e me deparo com aqueles programas policialescos da tarde. Pensei em exercitar a maneira e o traquejo que esses caras utilizam sem a menor cerimônia. Daí resolvi fazer um contraponto sobre a redução da maioridade penal, ao modo deles (e de algumas outras figuras do horário nobre, dos jornais, das revistas e, claro, sem esquecer dos fieis seguidores nas redes sociais). Essa seria minha primeira réplica:

Se no Brasil a reduzimos de 21 para 18, se atualmente alguns a querem com 16, virão 12, 10 num futuro... ladeira abaixo para os 9 meses do garoto do Paquistão... quem sabe não a reduzimos até o pai e a mãe, biológicos, de um moleque que ainda está para nascer terem retidas suas respectivas genitálias que estão "a serviço da criminalidade, da bagunça e da desordem que assola o país nos últimos 12 anos" (sic).

Depois fiquei pensando no quão psicótico seria um desses opinadores de jornalão bradar aquilo "que o povo inteiro quer dizer e não tem oportunidade:

- Esterilizem esse futuro pai de marginal!"

Graças aos deuses a Internet voltou nesse meio tempo.

quinta-feira, outubro 31, 2013

Os 10 anos do Bolsa Família

"Aos olhos das nossas classes dominantes, antigas e modernas, o povo é o que há de mais reles. Seu destino e suas aspirações não lhes interessa, porque o povo, a gente comum, os trabalhadores, são tidos como uma mera força de trabalho - um carvão humano - a ser desgastada na produção. É preciso ter coragem de ver este fato porque só a partir dele, podemos romper nossa condenação ao atraso e à pobreza, decorrentes de um subdesenvolvimento de caráter autoperpetuante...” (Darcy Ribeiro, 1986)

Dignidade não é somente (e talvez nem seja de fato) ter um trabalho. Ser um "carvão humano", nas palavras do grande Darcy Ribeiro, não me parece algo do qual o sujeito deva se orgulhar. Enxergar o "trabalho" apenas como um "emprego", a partir da lógica capitalista da necessidade da venda da força de trabalho para sobreviver não nos permite, ao meu ver, usar uma palavra tão bonita: "dignidade". Apesar de entender que a lógica linear do "nascer, estudar, arranjar um emprego, casar e morrer" é motor da história de nossa sociedade, poderíamos, pelo menos, relativizar a linearidade da lógica. Existem coisas dignas fora desta dura regra.

Esqueçamos um pouco nosso inflexível destino. Tratemos o ser humano enquanto "ser humano". Nada de "recursos humanos", "força de trabalho"... Melhor, tratemo-nos como gente, ou gentes (enxergando a pluralidade das culturas do universo sapiens-sapiens).

Ok, agora temos um ponto de partida.

O polêmico Programa Bolsa Família completou 10 anos. Para os mais entusiastas (além de governistas exaltados), 36 milhões de pessoas saíram da miséria e vivem, hoje, no paraíso. Para os mais pessimistas (além de oposicionistas de nossa divina direita), 36 milhões de vagabundos, além de arranjarem seu maior lobby (o "pra quê trabalhar?!?"), se constituem nos eternos eleitores do PT à nível de executivo federal, o partido que gosta de inverter valores morais absolutos como, por exemplo, retirar dinheiro da classe média, que trabalha e sustenta este país, para repassar suas famigeradas bolsas a fundo perdido, fabricando delinquentes que não colaboram com o desenvolvimento de nossa promissora pátria luso-brasileira.

Geralmente esta última categoria (os pessimistas - além dos malvados) é aquela que chora nos grandes espetáculos nacionais, de grande aparição na mídia, como o garoto que supostamente, e infelizmente, matou toda a família e se questiona ("Meu Deus, aonde esse mundo está indo?"), e que, ao mesmo tempo, mostra-se alheio à violência nas periferias do Brasil (vinda de todos os lados, inclusive do Estado), desde que o tiroteio não bata sua porta, é claro.

Existe uma convenção na conservadora sociedade brasileira de que o Bolsa Família é um nefando programa, uma conspiração do PT para se perpetuar no poder. Aqueles mais sagazes dizem que nem foi o PT quem inventou a história da transferência de renda, mas que já existia uma história dessas no governo/gerência do FHC - a famosa Bolsa-Escola - em 2001, nos 45 minutos do 2º tempo de sua gestão. Argumentos simplistas, ralos. Na verdade, mergulhando no Distrito Federal dos anos 90, governado por Cristovam Buarque (à época do PT), vê-se a instituição de uma teia de iniciativas visando manter filhos de famílias carentes na escola.

Mesmo ainda não tendo atingido o status de "gozo da autonomia", visto que 18 anos não tinha, lembro-me do lançamento do Programa Fome Zero, em 2003. Diversas iniciativas articuladas seriam engendradas para a superação de uma chaga cinco vezes secular: a fome e a miséria. O recebimento de uma quantia em dinheiro por mês para auxiliar nos gastos da família, ou em quase todos os casos ser a única fonte de gasto da família, seria uma dentre as diversas ações, afinal "quem tem fome, tem pressa".

Muitas dessas iniciativas foram realizadas, a exemplo das milhares de cisternas construídas por segmentos organizados da sociedade no semiárido brasileiro. Trabalhei nisso, sou do semiárido e sei de sua imensa importância. Diversas eram as comunidades que possuíam como única fonte de água um cacimbão com a água mais verde que a mais escura das camisas do Palmeiras. "Segurança alimentar" era a expressão-chave que sintetizava as diversas ações: Incentivo à agricultura familiar, Reforma Agrária, merenda escolar e... transferência de renda. O programa era ousado. Bulir nos calos da história do Brasil e superar uma estrutura posta há 500 anos soa, no mínimo, como construir trincheiras contra a elite.

Passados os anos, viu-se que a transferência de renda se tornou o carro-chefe das políticas sociais. Com um nome pomposo - "Bolsa Família" - ganhou luz própria pela reunião das diversas iniciativas e exigências de acesso no sentido de melhorar gravíssimos indicadores, como frequência escolar, regularidade nos pré-natais, vacinação em dia, o próprio aumento/criação poder de compra; fez com que 36 milhões de pessoas saíssem da condição de extrema pobreza nesses últimos 10 anos ao custo de 24 bilhões, ou 0,46% do PIB (menos de 1/2 porcento!).

Engana-se quem pensa que isso é algo eminentemente socialista, de extrema esquerda, etc. Não sou economista, mas vejo que a opinião de muitos deles - sérios, não daquelas rasga-mortalhas dos telejornais - apontam que o aumento de poder de compra do brasileiro segurou a onda da famosa crise econômica de 2008. Quem é, nesses último 10 anos, que não viu o Seu Chico tornando seu mercadinho um pequeno - ou às vezes grande - supermercado? O Programa tem seu papel na política econômica vigente, baseada no consumo interno como mola propulsora.

Talvez a explicação do tal sucesso do Programa em detrimento de outras ações do Fome Zero seja esta sua própria lógica não transformadora de pilares de desigualdade, mas de aparar pontas de desigualdade extrema. Isso por si só é bonito, deveras relevante, mas não questiona relações de poder e não mudará a curva do gráfico do abismo que separa ricos e pobres. Também não se trata de ganhar na loteria. Os beneficiados continuam pobres, não tanto quanto antes, mas certamente no estágio da exploração. A proposta de empoderamento da gestão por parte dos beneficiados, característica do Fome Zero, não avançou. Isso poderia trazer um protagonismo ímpar para os mais pobres. Talvez seja esse o grande desafio do Programa: empoderar a população mais carente para ser o sujeito de transformação do país.

O que está em jogo não é uma suposta "esmola". Usando a lógica do "é muito mais do que 20 centavos", a questão posta, para mim, não está nesta órbita. Tal argumento segue uma linha de raciocínio digna de um escravocrata, herança direta daqueles que viram no Brasil uma oportunidade de saquear até a última gota de suor de sua gente. Não me parece fazer sentido não poder receber auxílio do Estado por um momento e, ao mesmo tempo, ser dependente numa relação de vassalagem com um fazendeiro, um empresário, um político local, oligarquias seculares. Todos esses atores, aliás, além de receberem auxílio do Estado (vide os infindáveis incentivos fiscais, dentre tanta coisa), historicamente pautam o mesmo na defesa de seus interesses corporativos. Mas aí é já outra conversa...

sábado, setembro 21, 2013

Presente, professor!

Há exatos 3 anos Paccelli Gurgel rumou para outro plano existencial, passando a habitar os corações e mentes das diversas pessoas que aprenderam a admirá-lo por sua vivência, simplicidade e amizade. Quem o conheceu mesmo sabe do que digo. Um intelectual com cheiro de gente, daqueles poucos que enxergam a sutileza que fazem toda a diferença, no que quer que seja.

Na ocasião pensávamos a sequência das canções montadas para o show de estreia do Arlequim Rock'n'Roll Band, nos idos de setembro de 2006... A banda, aliás, é um projeto idealizado por ele, com que tive o prazer de ajudar na dialética de sua práxis. 

Paccelli Gurgel... presente, professor!

terça-feira, agosto 27, 2013

Médicos do Mundo

(Verso cantado) Nós médicos já nascemos ricos!

Ok, ok, não adentrarei a este assunto em específico. Tenho amigos/amigas médicos/médicas. Conheço-os/as o suficiente para não cair na armadilha da generalização cega, igual àquele resumão de um texto extenso o qual o redator, por displicência ou pura preguiça, não lê com a devida atenção e deixa o principal de fora.

Sei e atesto que muita gente não gosta do interior ou da periferia de uma grande cidade. Não é exclusividade de médicos. Conheço muitos que tem horrores aos grotões (doravante falarei apenas do interior por afinidade e conhecimento de causa), de estudantes do ensino médio a marcianos. Pior, gente própria do interior, iguais a mim, parida na terrinha. Quem nunca ouviu aquela máxima de algum conterrâneo, "ah, vou me embora desta m*, lugar de gente atrasada, sem opções de lazer, sem praia...". E o que dizem acerca das periferias dessas pequenas cidades? Domínio público. Pensamento elitizante de gente elitizada, óbvia sintonia. Não é exclusividade de médicos. De fato, para quem está acostumado com o barulho, engarrafamentos, violência exacerbada, com a frieza das relações humanas, viver no interior é algo bem diferente. Aliás, AINDA é diferente.

Sabemos da falta de estrutura para as necessidades totais de atendimento à população. Além de profissionais do ramo, precisamos de hospitais, materiais, equipamentos, etc, etc. Só um louco não enxerga isso. Vemos uma tímida interiorização deste complexo de serviço de algumas décadas para cá, e ponha tímida nisso. Precisamos esperar o período da criação do universo até os dias de hoje para que uma cidade como Patos, com 100 mil habitantes, por exemplo, tenha um centro de oncologia vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Sabe-se também da máxima "é melhor prevenir que remediar". Ao longo dos anos, desenvolveu-se a noção de medicina preventiva. Ou seja, não preciso de médico apenas para "me curar de uma doença", da utilização de equipamentos padrão Fifa para o necessário diagnóstico. No SUS existe o tal Programa Saúde da Família. Segundo o Ministério da Saúde, "a Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes, e na manutenção da saúde desta comunidade".

Ou seja, além de trabalhar o aspecto comunitário preventivo, procura-se resolver os males frequentes da comunidade. Quando se trata de algo que requer aquela estrutura dita acima, encaminha-se para o centro afim. Geralmente este centro fica a milhares de léguas, é pago ou, mesmo sendo público, demoram-se meses para o serviço. Além disso, e aí está o pior, temos o agravo do agravo. Faltam médicos nas localidades mais distantes e nas periferias das não distantes para fazer o serviço de atenção básica. O déficit é enorme. Quando mais se interioriza, mais grave o problema se torna. O próprio Conselho Profissional da área atesta.

Tem mais, os profissionais brasileiros, em geral, mostram-se desempolgados em atuar. Motivos são infindáveis, da falta de estrutura até a velha máxima (lugar de gente atrasada, sem opções de lazer, sem praia...), além do sonho de realização pessoal e profissional cultivado por esta e outras categorias (não é na novela das oito vigente em que o contexto se dá num hospital particular, com um galã sendo o dono, e toda aquela fanfarronice do horário nobre plim-plim?!).

Pra ser sincero, não me interessa saber se o cara veio da Etiópia, Inglaterra, EUA, Ilhas Virgens, da Lua ou o que o valha. Interessa que saiba o que faz. Aliás, é bom saber que parte dos estrangeiros vêm de Cuba. O grande trunfo do sistema de lá é a atenção básica, objeto de nossa questão aqui. E até onde sei, para não se incorrer ao exercício ilegal da profissão por parte de técnicos em enfermagem ou enfermeiros ou assistentes sociais ou porteiros ou vigilantes, faz-se necessária a presença de um médico acompanhando o processo. Se não há brasileiros dispostos, que chamem os de fora, principalmente quem tem experiência e entende do assunto. Continuemos, então, inclusive o Conselho da classe, a cobrar mais estrutura, mais atenção e muito mais providência para o drama do SUS, que requer, inclusive, a universalização dos médicos onde o povo está

Penso que qualquer debate que desconheça tais fatos, ou é mero corporativismo, ou pior, escancara de vez a cultura de elite impregnada na sociedade brasileira: o ódio feroz de classe, cruel e insensível.


terça-feira, julho 30, 2013

Devaneios e Blues [edição II]

É um som que não te suga a alma, ao contrário, a desnuda. Ele não muda a essência do ser, mas a
escancara para si. Se tem algo que impulsione o vetor interior-exterior esse algo é o BLUES. Na solidão das noites sem graça, sem o convívio do amor em suas mais diversas nuances, o blues acalanta a dor. Mesmo aqueles que se furtam do convívio social por pura opção se utilizam dele - do blues - para trazer seu mais profundo "eu" à companhia. Mergulhar na emoção que o blues envolve nos faz conhecer esse "eu" que muitas vezes teimamos em não ser, seja por desconhecimento, confusão ou pelo excessivo exercício de mentir pra si.

O blues tradicional provoca isso talvez pela situação de negação ao todo exterior, característica de seu nicho social de nascença, dos camponeses do Delta do Mississípi ou na Chicago operária, ambas situações de miséria material e histórica da classe subalterna nos "States" do início do século XX (cena que não mudou muito). A crueldade e frieza da realidade da sociedade capitalista, sobretudo em contexto latino-americano, dão-nos perfeita sintonia com a turma do sul dos "States", provocando-nos rotas de fuga da realidade, de maneira depressiva e solitária ou lúdica e festiva, tudo sob cavalares doses de nitroglicerinas. Não irei, no entanto, ater-me ao vetor oposto, do exterior-interior (mesmo sabendo que dialeticamente tudo flui) da "encarnação" do mundo em que vivemos, dos muros e grades que a vida social nos impõe (o filme "The Wall" é uma ótima pedida pra mergulhar nesta perspectiva). A relação posta aqui é do indivíduo consigo mesmo e o empurrãozinho que o blues dá.

A apresentação de velhos amigos que o blues proporciona, do individuo com seu interior, é inspiradora. Por vezes perigosa, mas inspiradora. O "bate-papo" nem sempre é descontraído. Olhos são umedecidos a depender das percepções. As descobertas e suas consequentes reações podem não ser das mais auspiciosas. Gestos tresloucados até que pintam, uns suaves outros nem tanto. É um momento necessário de hibernação e reflexões, de viajar, superar a superfície. Pode parecer sinal de fraqueza ou coisa afim, mas é sinal de vida, sentir-se pulsante, soberano de si.

Tudo isso advindo de um som (!). Os acordes e pentatônicas melodiosas, a repetição do quadrado no braço da guitarra ou do violão, a base simples como deve ser a vida, o feeling do bluesman... O conjunto disso é trilha sonora do diálogo anunciado. Melhor não poderia ser. Não é a toa que ele fornece estética e, principalmente, atitude a outros fenômenos socioculturais forjados nas inquietudes sociais e humanas.

sábado, julho 13, 2013

Um senhor ainda mais jovem

Hoje é o dia daqueles que respiram Rock'n'Roll, mesmo tendo muitas razões pra questionar a data. Dia em que todos os paredões com aquelas (pseudo) canções enlatadas deveriam pelo menos calar seus alto-falantes estúpidos. E pensar que essa merda é uma derivação industrial do fenômeno musical parido nos anos 50. Seria pedir muito. Contudo, temos motivo pra comemorar. As cenas culturais se renovam, não mais com o fervor da indústria fonográfica, que possui prioridades outras. Acho que isso é bom, pois as coisas acontecem de forma alternativa e espontânea sem a influência de magnatas, que de arte entendem bulhufas... Na caso brasileiro, Recife pega fogo com as distorções plugadas ao resgate dos ritmos regionais. E não falta gente fazendo isso Brasil adentro. O sul também também se faz presente na cena com o vigor característico dos velhos tempos. O metal que (que para mim é Rock sim!) não pára de se reinventar. À margem dos padrões industriais, circuito de eventos com banda de Rock no meio é o que não falta.

Falar de Rock'n'Roll não é resumi-lo a distorções. Se por um lado se constituiu numa estética conceitual de certo modo delineada (a popular "turma de preto", por exemplo), por outro temos uma contraproposta histórica a um comodismo inerte gerador de lagartixas que tem como função primordial balançar cabeças e aceitar tudo goela abaixo. O rock historicamente age em contraponto ao senso comum e se caracteriza pelo inconformismo ao estabilshment. Esse é o conceito que adoto e dele procuro não me desprender. É só se remeter à dita poesia "rock". Nas palavras do Roger Waters, ex-líder do Pink Floyd, é "impossível se ter Rock'n'Roll sem ofender". De preferência, ofender os opressores...

Como academicamente e por gosto pessoal me remeto aos gigantes desbravadores desse tal fenômeno mundial dos idos dos 50' (com raízes ainda no século XIX - o blues, etc), a eles dedico as homenagens deste singelo, mas sincero, espaço. 

Dentre os cavaleiros da távola, o maior, em minha singela opinião...


quarta-feira, junho 26, 2013

Um Gigante Contra Outro

Pergunto se em alguma etapa de nossa existência pós 1500, mesmo pós-colonial, ou neocolonial, tivemos ou temos algo semelhante ao conceito clássico de cidadania. Ter direitos e deveres a cumprir em favor da comunidade e do conjunto delas é muito mais do que acessar grana suficiente para comprar um telefone celular de sete chips em doze vezes no cartão.

Na sociedade do capital, a vala-comum é comemorar a ascensão de milhões à condição de potenciais consumidores. Nada contra. Quem não quer antenar-se com as evoluções tecnológicas visando um bem-estar material?! Ouço e vejo muita gente hipócrita que critica o desejo das pessoas em acessar bugigangas, mas não abrem mão dos seus ipods, ipads, GPS, etc, etc, etc. O cinismo é ainda maior com o pessoal do campo: quando o camarada troca o jumento pela moto logo aparecem aqueles que exalam por seus poros velhos preconceitos sociais.

Devemos considerar, no entanto, que cidadania vai além do poder de compra. Na sociedade atual, tudo se reduz a capacidade de comprar bens e serviços, o que nos remete ao entendimento de que aqui não existe cidadania plena, longe disso. Que, ao contrário da propaganda oficial, não somos um país de todos, mas daqueles com condições monetárias de comprar bens e serviços. Não são cidadãos, são CLIENTES. Não somos um país-nação, mas uma COMPANHIA. Quer-se saúde, que a compre na esquina ou pague caro por um hospital particular. Quer seu filho se dando bem na vida, pague! Matricule-o no Colégio "fulano de tal", particular. A noção de educação, mesmo a pública, sucateada, é bancária, que visa resultados, como se estivéssemos calculando quantos robôs acríticos se produz numa determinada escala de produção. Quer-se uma praça tranquila para passear, caminhar, que vá morar num condomínio privado, com você pagando por tudo onde pisa. Não preciso falar de nossos patrimônios sendo paulatinamente privatizados e entregues a iniciativa privada (rios e suas hidrelétricas, estradas, exploração do petróleo, minérios, etc.). Nossos impostos (dos maiores deste planeta) cada vez mais servem para manter o superávit primário e financiamentos escuros para empresas lucrarem com serviços vendidos à população.

Governantes de todas as esferas são fantoches nesse processo. A estrutura política nacional favorece isso. Ou alguém em sã consciência acharia que um oligopólio de empresas de ônibus interurbanos, que com milhões apoiam candidaturas Brasil adentro, irá compactuar com Passe-Livre sem que o Estado banque tudo o que for necessário ao mantimento de sua margem de lucro? Qual estabelecimento irá querer um trabalhador consciente que é explorado? Que carteira assinada, férias e décimo terceiro são obrigações da empresa e não favor ou camaradagem? Qual emissora de TV ou rádio de grande porte irá contrariar essas empresas, que são seus principais patrocinadores? 

Isso tem nome: Neoliberalismo. Grande parte da galera insatisfeita com esse estado de coisas, que agora está na rua, viu isso na escola, nos livros de História e Geografia. Não é nenhuma novidade. De um lado, é preciso perceber que de uns anos pra cá, por ação governamental, seus efeitos catastróficos foram diminuídos para a população mais carente. Não nego isso. Temos avanços, ou melhor, temos maior contenção das desigualdades provenientes do Neoliberalismo através de uma rede de políticas sociais. Um pequeno avanço se percebe em saúde, sobretudo nos atendimentos de urgência. Na educação, focando na Educação Profissional e no Ensino Superior, aumentou-se a oferta, interiorizou-se, ajudando pequenas e médias cidades do interior a seguir sua vida. Porém todo esse processo é bastante contraditório. E a educação da criançada continua de mal a pior, apesar da luta dos heróis e das heroínas que no dia a dia estão lutando contra um sistema concebido para não dar certo. Nada melhor que ser um professor e ouvir colegas para confrontar com aquela propaganda da "escadinha do IDEB (índice de Desenvolvimento da Educação Básica)".

Em suma, temos motivos de sobra para estar nas ruas. Porém, é preciso entender a lógica disso tudo e as forças que estão por trás de nossas mazelas. Isso não surgiu agora, não é culpa exclusiva desse ou de qualquer outro governo isoladamente, e não será depondo presidente, governador ou algum deputado fundamentalista que isso mudará a ponto de nos trazer resultados concretos. É preciso interferir diretamente naquele quadro acima. Aí poderemos falar em cidadania. O gigante que acordou deve confrontar o outro gigante. Aquele que acena com suas mãos invisíveis sobre todos nós e que a única coisa que não faz é dormir.

sexta-feira, junho 14, 2013

O Busão e a História

Acordar bastante cedo. Pudera, teremos um longo caminho até a labuta. A vida não tá fácil, longe disso. Muito tempo de condução, condições ruins, a maioria em pé, encurralados. A turbulência da viagem já nos deixa doentes antes mesmo de algum vírus pensar em fazê-lo. Nosso dia-a-dia de trabalho não colabora em muita coisa extra corpo, nos garante comida pra poder ter o mínimo de força pra encarar o outro dia. Mas agradeço ao meu padim pelo pouco que tenho. É nossa condição, é o que nos resta. Sem contar que existe, aqui na Colônia, um forte sentimento de vingança por parte dos donos do poder contra aqueles que se atrevem a reclamar. Pior que isso, grande parte de nossos semelhantes odeia quando fazemos isso, mesmo estes sofrendo às mesmas agruras, talvez piores. Que somos vítimas de muitos preconceitos, todos sabem. O pior é ter que aguentar quietos. Quando os mentirosos não mais nos enganan, passam a apoiá-los quando nos calam no chicote, no porrete. À noite, quando estamos juntos, rola umas conversas de que as coisas vão indo bem, a grande produção aumentou nossas esperanças de finalmente termos um país de verdade, termos nossa tão sonhada liberdade.

Estúpido que não sou pra acreditar nisso. Deve ser o que chamam de história mal contada, repetida várias vezes, tornando-se verdade. Para que ninguém diga que sou um vagabundo, que sou preguiçoso, não vou falar do trabalho, da pouca comida e da não condição de desenvolver lazer, cultura, etc. Dessa vez falarei de outra coisa, compreendendo que está totalmente envolvida com as outras. Falarei da condução, do NAVIO NEGREIRO.

Cara, ele é horrível!  Pense num aperto dos diabos. Não são poucas as vezes que pessoas adoecem com aquela tormenta. Tem caso até de gente que morre, não tenha dúvida. E pensar que é só o começo, mas prometi não reclamar do trabalho, afinal de contas ainda me resta comida pra poder trabalhar e que, a cada dia, sou ensinado que não se pode reclamar, senão me tornarei um vândalo. Tem coisa pior que isso?!

Mas tão falando que esse tal de capitalismo que está por vir cobrará por tudo que nos rodeia. Dizem que, no futuro, as pessoas vão ganhar dinheiro com o suor do seu trabalho e com ele teremos o direito de comprar ou utilizar o que precisarmos. Não moraremos mais no barracão, temos que nos virar com um tal de “salário”.

Será que irão melhorar o Navio Negreiro? Bom, acho que sim. Vamos ter que pagar por isso também, não é?!

Será que poderemos reclamar dos problemas?

sexta-feira, junho 07, 2013

Ode à VONTADE ("Faze o que tu queres")


Adoto um conceito e sentimento com relação à arte que se estende a diversos outros aspectos da vida. Melhor, se a arte está em tudo, necessariamente este conceito estará.

Não precisa ser afinado, bem traçado, etc. Não é necessário vestir roupas em cores cítricas, em neon (ou em led) para chamar atenção. Aliás, cabe um adendo. A imagem também faz parte, é intrínseca quando da apresentação de algo, seja o que for. Ela também se faz presente num momento de criação, por que não?! Talvez seja na imagem que identificamos qual é a do cara, o que quer dizer. É o primeiro contato com alguma ideia. Indo além, pode dar pistas de sua ideologia, delineada ou não. Tudo bem, a imagem, que compreende o visual, as técnicas de oralidade, etc, etc, fazem parte do espetáculo pelos palcos da vida, artística ou cotidiana.

Penso, mesmo assim, que o lance é ser honesto. Propor-se a algo utilizando a alma (ou, para os mais descrentes, trazendo o sistema nervoso ao seu favor), com sangue nos olhos. O sorriso e os olhos de uma pessoa quase sempre entregam. Impossível ser falso o tempo inteiro. Talvez exista gente que consiga, vai saber... Por outro lado, em diversas vezes nos sentimos obrigados a valer, talvez não da falsidade, mas do exercício do recuo, fazendo coisas com as quais não estamos com o menor pique. Estabelecendo limites, acho imprescindível perceber que o mundo não concatena órbita com nosso umbigo (a despeito de muitas pessoas agirem como se fosse) e que o meio alimenta enquanto alimentamo-lo.

Esse arrodeio é pra exaltar o quão é legal fazer aquilo que tu tens vontade de fazer. Raul Seixas nos diz em "A Lei", canção - manifesto da Sociedade Alternativa, que prevaleça o amor, mas o amor sob vontade. "Essa é a nossa lei e a alegria do mundo", bradava. Penso que é por aí mesmo. Você só faz aquilo que tem sede por fazer. E ela é motivada por aquilo em que se acredita que faça parte de si, que o furor da realização faz levantar seus pelos que ainda estão para nascer. Desta feita digo sem o "talvez": QUANDO O CABRA TEM VONTADE MESMO, A COISA SAI. Até o Paulo Coelho (que não me diz muita coisa) disse isso. "Se QUISERES algo do fundo da alma, o universo inteiro conspira" (e blá, blá, blá). É mais um exemplo. Quando se quer e, principalmente, se consegue, aí é o felling, o Nirvana, as mandalas, o que for. Se se parar pra pensar, a gente faz tanta coisa pra atingir esse estado de espírito (ou a tal sensação de gozo do sistema nervoso) que não nos damos conta. Movemos céus e terra. Fazemos coisas que não gostamos tanto (ou o tal recuo dito acima). Dedicamos longos períodos de vida (estudos, ensaios, dispêndio de força de trabalho). Mesmo sabendo que estamos metidos ao máximo nesta prisão social, há algo que nos orienta a mandar tudo para o raio que o parta e a avançar naquilo que acreditamos piamente e que alumia a construção de algo novo.

O novo?! Quem sou eu pra contrariar o “Belchis”... "O novo sempre vem"!

sexta-feira, maio 31, 2013

O mal que habita em mim [reeditado]


A vida, para mim, se torna algo mais interessante quando não a reduzimos ao fatalístico "bem-mal". São muitos os sabores e dissabores que cotidianamente provamos, exercendo o exercício da escolha ou não. A beleza que é poder sentir os calços e percalços de nossa história individual e coletiva são muito caras para se curvar diante de uma dualidade paralela que nos reduz a vermes cumpridores de ordens, sem criatividade, sem questionamentos, sem o benefício da utopia transformadora. É um atentado àquilo que a própria natureza - respeitando religiosidades - nos brindou.

Nos dias de hoje, se percebe uma incessante busca à paz. Até aí, tudo bem. Quem não a quer? Poder usufruir uma vida sem guerras, sofrimento, entregas. E aí é que a coisa complica. Antes de discorrer, quero dizer que a paz da qual falo não é o céu ou outro plano transcendental que ultrapasse os limites da estratosfera. Falo daqui mesmo, desse mundo chinfrin, o qual ao meu ver é o único que temos "garantido", e se verdadeiramente temos todo aquele sentimento de pertença para com o ele, englobando tudo o que nele habita, de xerófilas à baratas, de palmeiras à pessoas, de familiares à desconhecidos das Ilhas Canárias, que nos engajemos às pluralidades de lutas para sua redenção. Não creio que isso signifique postar alguma frase pré-fabricada de rede social, que sequer a autoria se sabe (quando não a mente), e com uma benevolência que deixaria Cristo, Buda, Ghandi, Bastet, todos em plano intermediário, e, no cotidiano da vida, "na rua", vivenciar um inútil ócio despolitizado/despolitizante, esquecendo o que os próprios disseram ou "compartilharam" no mundo virtual. Esse mesmo exemplo se aplica a igrejas, sindicatos, partidos, etc.

Claro que isso faz parte de uma visão de mundo, de perspectivas, de inquietudes. Outrossim, penso o quanto seria desnecessário "passar pela Terra" e não fazer "nada de futuro", sendo simples massa da euforia industrial e financeira. Pergunto para que viver num mundo do qual as transformações seriam impossíveis? Lembremo-nos que o estabilishment de hoje é fruto de transformações advindas ao longo da história, humana ou além dela. Eliminar a CONTRADIÇÃO e a DIALÉTICA existente é tapar todos os sóis do universo (descobertos ou não) com uma cerca de arame farpado. E isso os diversos poderes constituídos não medem esforços, inclusive e sobretudo o chamado "quarto poder", a mídia oligopolizada.

Publicada alternativamente, sob o título "O Bem que Habita o Mal", em: http://www.caldeiraodochico.com.br/categoria/colunas/diego-nogueira/

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Como somente sou um frequentador de tabernas em assuntos como psiqué, metafísica e universo paralelo e para não ter de bulir de forma direta com conceitos, científicos ou religiosos, deixo a canção que deu o pontapé inicial para as bazófias escritas até aqui.






"(...) É como um franco atirador
Atento ouvindo o rufo do tambor
A espera de alguém ou algo de valor
Com suas balas recheadas de amargor (...)"
(Marcelo Nova)


quinta-feira, dezembro 13, 2012

Seculorum Gonzagão


A contemporaneidade que tive com Luiz Gonzaga não se faz lembrada visto minha parca idade quando o homem estava entre nós. Fosse o ápice de sua carreira nos dias de hoje provavelmente continuaria lá não muito fã de suas convicções políticas. Foi um homem rodado que, assim como uma infinidade de nordestinos e nordestinas, tiveram que buscar possibilidades de reproduzir suas vidas noutros lugares deste Brasil tão desigual.

Porém, seu legado, para mim, pouco ou quase nada tem a ver com suas filosofias políticas. A grande mensagem que o velho Lua nos deixa é cantar nossa região, socializá-la com lugares e pessoas tão fechadas, as agruras vividas e sofridas pelo povo nordestino, sobretudo na região semiárida tão massacrada não pela seca (ver post anterior) mas, como diz o Gilberto Álvares, "pelo domínio espúrio de párias". Daí incorre minhas desavenças com nosso mito popular. Normal. Até compreendo sua situação. Não era diferente da opinião dos 90% da população tupiniquim e quase que a totalidade dos que aqui vivem, no Norrrdeste. Talvez o fato de ser um mito faz do cara algo que na essência não seja, vai saber... ainda mais quando o tradicional conflito de gerações na família estabelece um Gonzaguinha do lado oposto.

Mas ainda não é daí que enfoco a figura de Luiz Gonzaga. Pelo contrário, é pela maneira poética, artística, simples, honesta, NORDESTINA, que nosso amigo cantou nossa cultura, nossas tradições, nossas lendas, nossos mitos, nossos "causos", nosso jeito de falar. Impossível não se emocionar (ainda mais nesses tempos de pouca chuva) com "já faz três noites que pro norte relampeia"... Ou, ainda, "tudo em vorta é só beleza, sol de abril e a mata em flor"... o que falar, então, de "Asa Branca" ou a beleza do "Luar do Sertão"??? Como nem tudo são "frô", cantou o martírio do povo sofrido, os que partiram para o sul e os que ficaram. Cantou para os quatro cantos do país a vida cotidiana de grande parcela de nossa população, as maravilhas e o oposto.

Além disso, perspicaz ao cotidiano como era, o velho Lua percebeu o florescimento de uma nova cultura, emergente das contradições e distorções sociais. Era outra parcela de nossa população que se fazia cada vez mais presente, no Nordeste inclusive. "Cabra do cabelo grande / cinturinha de pilão / (...) cabeludo tem vez não". Era a transformação  da juventude no mundo, contestadora por excelência, embalada pelas diversas formas do Rock'n'Roll. Por essas e outras que, à sua maneira, o velho Lua é sem dúvida uns dos grandes poetas de nosso povo. Mais que isso... UMA majestade, o REI DO BAIÃO!

Um brinde ao centenário do Gonzagão, músico POPULAR brasileiro de VERDADE!

Playlist só da boa:



sexta-feira, dezembro 07, 2012

Seca... um desabafo de saco cheio


Todo ano é a mesma ladainha. Políticos, imprensa, sociedade, os tais clubes de serviço (?), todo mundo se lamentando pela situação de estiagem sofrida pela população que vive em nosso belo semiárido, o mais populoso do mundo. 

Engraçado que todo aquele pessoal de cima (clubes de serviço - ? -, etc) só lembra da população que realmente sofre com a seca agora e "esquecem" (ainda sou um otimista) que essa situação pouco ou nada tem a ver com a seca. Talvez pouco por conta da pouca chuva, óbvio. Mas a questão incrivelmente não é essa, nunca foi.

O problema é a FORMA, a MANEIRA como se adota as políticas voltadas ao/do semiárido. Quase tudo é planejado para encher os bolsos de meia-dúzia de empresários (potenciais investidores de campanhas eleitorais) em detrimento do interesse comum. Como é que diabos uma região que tem um açude que se vê a olho nu da lua, que é o Castanhão, afora os outros mais de 80 mil açudes do Nordeste não segurariam a onda da seca? No caso de quem mora no campo, tem-se uma porrada de experiências exitosas de CONVIVÊNCIA com o meio, de cisternas (que é o que está salvando o pessoal do campo), barragens subterrâneas, a banco comunitário de sementes.

Água tem, mas está concentrada para o deleite de alguns, ou seja, terreno fértil (trocadilho infame) para se dizer por aí que vamos morrer sem água e a culpa é do processo pluviométrico irregular.

"A intervenção governamental no Semi-árido brasileiro, em grande parte, tem sido orientada por três dimensões que se combinam no combate à seca e aos seus efeitos: a finalidade da exploração econômica; a visão fragmentada e tecnicista da realidade local; e o proveito político dos dois elementos anteriores em benefício das elites políticas e econômicas regionais."

Esse é o motivo digamos "mais forte". No dia que enxergarmos o semiárido como um balaio de limites e potencialidades,  resolveremos o problema dos efeitos da seca, visto que deuses não somos para acabá-la.

Colocar a culpa desse padecimento em um fenômeno natural (visto que deserto não somos) se trata de um atentado a qualquer mente que faz da utilização do cérebro um exercício cotidiano...

segunda-feira, outubro 29, 2012

Uma noite especial

A ansiedade tomava conta. Pudera, não era um dia (e noite) qualquer. Tentando não se afobar para não estragar a apresentação, encarávamos como mais um show de tantos que já rolaram ao longo dos 6 anos de highway. Mas, com certeza, não era um dia (e noite) qualquer. Um encontro que demorou 6 anos pra rolar. Sempre imaginamos que quando em algum dia isso acontecesse seríamos os novatos da parada. Dividir palco com o Apocalipse (em respeito aos velhos tempos, recuso-me a chamar de CONSPIRAÇÃO APOCALIPSE) era um sonho próximo, mas de distante efetivação visto que os caras tavam parados desde 2005, antes do Arlequim existir. A imaginação me tomava de assalto e fazia-me pensar em diversas conjecturas, de como seria isso. Talvez a que nunca me passava era a de que Paccelli não estaria presente (fisicamente, pelo menos). Restou-me saber que se um isso ocorresse a coisa não seria do jeito que deveria ser. Paccelli é essência nesse processo todo.

Pois bem, os anos se passaram, essas ideias não mais me assaltavam. As impossiblidades enfraquecem algumas vontades. Eis que há pouco mais de um mês o Naldinho Braga nos convidara para uma apresentação no NEC, junto a uma banda que divide o set de ensaios conosco, o Cofe of Life. De imediata aceitação, nunca que imaginaria o que estaria por vir. Pois não é que alguns dias depois o dito Naldinho confirma que o APOCALIPSE VOLTARIA AOS PALCOS PARA A DITA NOITE NO NEC. Por um momento não acreditei, incréu que sou. Passados uns dias vi que a coisa tava tomando forma. Todos se animaram, óbvio. No Arlequim, a gente começou a trabalhar a mente, evitando o que disse acima. Geverson e eu dizíamos que era um ensaio (heresia), que ficássemos relax. Conversando com integrantes do Core, empolgação total deles. Repertório ensaiado, apresentações anteriores executadas a contento, tranquilo. Tava montado e nada de inventar qualquer coisa que pudesse comprometer. Vontade não faltava, pois a noite era espacial, mais que as outras, poderia estar incrementada com adereços musicais afins.



Sobre o que falava acima, daquela ideia de banda mais nova que acompanharia os dinossauros do Apocalipse, mais uma surpresa e constatação de um fato novo. JÁ TEMOS ESTRADA PRA DIZER QUE SOMOS PUTAS VELHAS. Pois é, o vigor do Core of Life e da galera que acompanha seus shows já haviam me mostrado isso. Mas com o caráter da divulgação, a coisa se tornou bastante latente pra mim. Isso é bom. A cena rocker tá se renovando, novos atores e novas atrizes vão surgindo, engrandecendo o movimento. A pretensão da exclusividade passa longe de nossa trupe.

O sentimento juvenil da admiração e do respeito perante os senhores que vi tocar se manifestou fortemente. Os caras do Apocalipse tavam com a bola toda, viris como nos velhos tempos. Pular ao som do Apocal foi uma necessária volta ao tempo, com os pés no presente. Enxergar que essas canções, que me são muito caras por estarem impregnadas em minha construção pessoal, estão a cada dia mais pertinentes, me dá forças pra também seguir em frente com esse tal de Rock'n'Roll, parafraseando a Rita Lee. Foi uma ótima sensação estranha.

Os 3 shows foram do caralho. Não existe expressão melhor pra defini-la. Foi foda! O show do Core of Life foi pra se lascar. Não me surpreendi, pois os caras mandam bem. O repertório, bem executado, é matador. Só clássicos do Hard Rock / Heavy Metal. Foda pra caralho.

Evitando advogar em causa própria, atrevo-me a dizer que gostei de nossa apresentação. O público nos recepcionou muito bem, pularam e se divertiram. As mensagens em algumas canções foram transmitidas com a energia que mereciam, fazendo lembrar que, a despeito da diversão, o mundo continua uma merda. Essa é a proposta do Arlequim e continuará sendo no que depender dos caras que sustentam essa "diversão trabalhosa".

Pois é, foi uma noite e tanto. Nostálgica, atual e bastante pertinente. Como dissemos no Arlequim, "história e presente se juntaram pra brindar"...



quarta-feira, outubro 03, 2012

A solidão e a cidade

Escrever sobre minha estadia pelas bandas de Filipeia de Nossa Senhora das Neves  era algo que relutava a fazer. Nos últimos 13 meses de existência material dedico semanas (precisamente os tais "dias úteis" - expressão encachoeirada de contradições) à capital de nosso Estado. Aqui vim trabalhar (outro conceito escroto esse, o de "trabalho"). Não vou me ater ao trabalho e seu desenrolar. Por hora, registro que gosto. Uma instituição pública, centenária, que durante sua trajetória voltou-se a formação de  técnicos e tecnólogos  produção industrial, que, ao longo das décadas foi ganhando conceitos pedagógicos antenados com o contexto histórico de seu tempo, e que atualmente ganha outra prerrogativa, a da formação acadêmica ampla (ensino, pesquisa e extensão indissociáveis), diversificando suas áreas de conhecimento e modalidades, sem abandonar, contudo, sua função pioneira. É um desafio e tanto, sobretudo no contexto da "coisa pública".

Porém, não é disso que quero discorrer. Falo de minhas "estadia e percepção" da capital, da cidade grande, da "violência da noite, do movimento do tráfego", e da relação dialética entre a cidade (e suas pessoas) comigo. Logo eu, filho único que viveu sua infância em cidade grande, estupidamente grande, em São Paulo, com seus muros e grades. Que depois virou a moeda para o lado provinciano de Cajazeiras... Volto ao eixo e ao modus vivendi dos semáforos, engarrafamentos e enlatados em conserva. Curiosidades da vida. Se é o tal destino, o karma (e DNA), o "plano de Deus para mim", confesso que não sei e muito menos preocupado com isso estou.


[Vez por outra, ao meter o bedelho nos assuntos do cotidiano, adentro assuntos de ampla dominação e sistematização da Psicologia. Como sou um frequentador de tabernas, olho o mundo a partir delas. Isento-me das distorções conceituais, visto que não sou da área e não pretendo ser. Encaminhem suas dúvidas a quem o  é. Conheço dois. Minha inconformada formação em História me dá subsídios para rabiscar sobre algo que incomoda, só isso. Portanto, nada de conferir uma importância desproporcional ao que aqui se posta.]


Um dos motivos de minha estranheza perante a zona urbana por excelência pode ter sido o fato de ter vivido totalmente o intervalo entre São Paulo e João Pessoa em Cajazeiras. Foi justamente o período mais louco da vida do sujeito, a adolescência  São 14 anos de plenitude na Terra do tal Padre. Trabalhei em Sousa durante 3 anos, voando pra casa ao final da labuta diária. Sousa possui um contexto similar ao de Cajazeiras, provinciano cosmopolita. Uma urbe do Sertão é caracterizada pela convivência não harmoniosa de valores, códigos de conduta e ética. Mesmo não convivendo tão pacificamente assim, percebo uma antropofagia entre o velho e o novo nas pessoas forjadas neste meio. Tipo um Seu Lunga que frequenta o teatro, que escuta Bob Dylan, que lê ficção científica e que (infelizmente) exagera no compartilhamento de frases de efeito no Facebook. Diante das distorções históricas do século Xis-Xis e do Rock'n'Roll, todos nós, da província à metrópole, ao menor contato com a contracultura, adquirimos novos sabores (alguns dissabores) e filosofias de vida. É o novo que não anda tão novo assim. Esta abertura universal também trouxe um outro novo (que parece o Benjamim Button, fica cada dia mais novo): o consumismo, o individualismo e a indiferença. E é nesse ponto, essencialmente urbano, tipo um super-urbano, que mais me repulsa pelas bandas da cidade grande. Os "cada um por si e Deus CONTRA todos" (carinhosamente chamado de "cada um por si e Deus POR todos") me soam muito mais estranhos que ver uma roda de pessoas ouvindo Nirvana ou Charles Aznavour em um celular numa pequena cidade "na pinga da meio-dia".

Na grande cidade tudo é privado. As ruas lotadas de veículos (nas auto-pistas nem calçadas existem). As pessoas preferem os espaços privatizados dos Shoppings Centers ou de seus apartamentos do que um papo de boteco. O espaço não-privatizado que o Humberto Gessinger pergunta em "Segunda-feira Blues" ainda respira em nosso interiorzão.

Não quero dizer com isso que "bora simbora morar na rua" ou exageros inerentes de um romantismo que às vezes me soa tão estranho quanto alguém que está ouvindo Nirvana ou Charles Aznavour no celular numa pequena cidade me olha com olhar indiferente quando peço para tocar Roberto Muller ou Reginaldo Rossi. Cultivo intensamente o lance da rede, acompanhada de um livro, um filme e/ou uma cerveja solitária no covil. Meu momento individual é sagrado ao ponto de comprar briga feia para garanti-lo. Porém, não o cultivo ao ponto de criar fungos entre as nádegas e a rede.

Talvez seja normal encarar a cidade grande nessa perspectiva. Não quero dizer que ela é ruim por conta disso. Não, não. Ela lhe dá uma porrada de possibilidades que a pequena urbe não permite. Faz parte. A Terra do Rio Sanhauá sempre foi um diferencial de cidade grande para mim. Talvez por não ser tão grande quanto Sampaulo ou Hellcife. O bairro que resido por aqui possui diversas semelhanças com uma cidade pequena. É uma cidade dentro de João Pessoa não só pela quantidade de habitantes, mas pela áurea, pelo espectro, da praça grandona e dos botecos do bairro com seu público tradicional. Talvez as "pequenas" cidades como Cajazeiras e Sousa sejam uma espécie de bairros que, a partir do """"""desenvolvimento"""""" da humanidade tornar-se-ão grandes cidades, com seus consumismos, individualismos e indiferenças.

Por último e fundamental, toda a minha vida está pelas bandas do sertão. Quase todas as minhas amizades daqui foram construídas lá, com as características de lá. As que vou fazendo por aqui baseiam-se na mesma premissa. São amizades forjadas na ideologia "Copo e Cruz", distante dos Shoppings Centers.

domingo, agosto 12, 2012

Dia dos Pais... 2012


Contemporizo fragmento do post feito para o Dia dos Pais em 2010. Clique aqui para ir ao mesmo.

(...)

Morávamos em Mauá-SP e o convívio de crianças com a rua (ainda característico nos sertões) era praticamente zero. O universo se dava na escola ou em casa. Lembro-me, como se fosse agora à pouco, das tardes de videogame Atari. O velho facilitava minha vitória nos duelos. Dominó, baralho, damas, banco imobiliário, cassino, pipa, peão, bola de gude... são tantas as lembranças.

Dono de um fino gosto musical, Seu Zequinha representa o mais nobre imaginário e cultura de nossa gente. Conheci o mundo do samba (verdadeiro, honesto - não aquela porcaria de pagode de plástico) por sua influência, de onde guardo lembranças da fita k7 rolando no deck do rádio gravador que até hoje mantemos em plena atividade, em casa. Era de Demônios da Garoa pra lá. Momentos que me são muito caros.

Eternas saudades do meu herói...

O velho adorava isso aqui: