quinta-feira, dezembro 13, 2012

Seculorum Gonzagão


A contemporaneidade que tive com Luiz Gonzaga não se faz lembrada visto minha parca idade quando o homem estava entre nós. Fosse o ápice de sua carreira nos dias de hoje provavelmente continuaria lá não muito fã de suas convicções políticas. Foi um homem rodado que, assim como uma infinidade de nordestinos e nordestinas, tiveram que buscar possibilidades de reproduzir suas vidas noutros lugares deste Brasil tão desigual.

Porém, seu legado, para mim, pouco ou quase nada tem a ver com suas filosofias políticas. A grande mensagem que o velho Lua nos deixa é cantar nossa região, socializá-la com lugares e pessoas tão fechadas, as agruras vividas e sofridas pelo povo nordestino, sobretudo na região semiárida tão massacrada não pela seca (ver post anterior) mas, como diz o Gilberto Álvares, "pelo domínio espúrio de párias". Daí incorre minhas desavenças com nosso mito popular. Normal. Até compreendo sua situação. Não era diferente da opinião dos 90% da população tupiniquim e quase que a totalidade dos que aqui vivem, no Norrrdeste. Talvez o fato de ser um mito faz do cara algo que na essência não seja, vai saber... ainda mais quando o tradicional conflito de gerações na família estabelece um Gonzaguinha do lado oposto.

Mas ainda não é daí que enfoco a figura de Luiz Gonzaga. Pelo contrário, é pela maneira poética, artística, simples, honesta, NORDESTINA, que nosso amigo cantou nossa cultura, nossas tradições, nossas lendas, nossos mitos, nossos "causos", nosso jeito de falar. Impossível não se emocionar (ainda mais nesses tempos de pouca chuva) com "já faz três noites que pro norte relampeia"... Ou, ainda, "tudo em vorta é só beleza, sol de abril e a mata em flor"... o que falar, então, de "Asa Branca" ou a beleza do "Luar do Sertão"??? Como nem tudo são "frô", cantou o martírio do povo sofrido, os que partiram para o sul e os que ficaram. Cantou para os quatro cantos do país a vida cotidiana de grande parcela de nossa população, as maravilhas e o oposto.

Além disso, perspicaz ao cotidiano como era, o velho Lua percebeu o florescimento de uma nova cultura, emergente das contradições e distorções sociais. Era outra parcela de nossa população que se fazia cada vez mais presente, no Nordeste inclusive. "Cabra do cabelo grande / cinturinha de pilão / (...) cabeludo tem vez não". Era a transformação  da juventude no mundo, contestadora por excelência, embalada pelas diversas formas do Rock'n'Roll. Por essas e outras que, à sua maneira, o velho Lua é sem dúvida uns dos grandes poetas de nosso povo. Mais que isso... UMA majestade, o REI DO BAIÃO!

Um brinde ao centenário do Gonzagão, músico POPULAR brasileiro de VERDADE!

Playlist só da boa:



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