quinta-feira, dezembro 22, 2011

A gente não quer só comida...

Lamentável a postura hora adotada pelo Governo Federal. E não é pura e simplesmente uma crítica única e exclusivamente centrada sobre as cisternas de plástico, PVC ou o que o valha. A crítica posta se fundamenta em enaltecer todo um processo belo por essência, de sublime magnitude. O Programa 1 Milhão de Cisternas, junto a outras ações, é articulado, gerido e desenvolvido pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), que não é UMA Organização Não Governamental  (ONG)(sinônimo do capeta hoje em dia), mas um fórum de entidades espalhadas pela vasta área denominada de Semi-Árido Brasileiro (sinônimo de inferno desde sempre). Este fórum agrega uma variedade de organismos sociais, sejam eles associações de agricultores (ou associações de associações de agricultores), sindicatos, entidades religiosas e... ONG's. ONG's não são o mal em si. É preciso entender primeiro e depois separar o joio do trigo. Entendo esta não ser a proposta deste post. Continuando... Mesmo com diferentes filosofias e formas de trabalho, essa variedade de grupos possui um paradigma em comum: A CONVIVÊNCIA COM O SEMI-ÁRIDO TUPINIQUIM. Isso por essência é EPISTEMOLOGICAMENTE contrário a histórica idéia de COMBATER A SECA, lutar contra a natureza. Nada a ver. Conviver com o lugar a qual se vive é aprender e construir alternativas de VIVÊNCIA, de convivência com as limitações do ambiente, noção  aplicável a todo e qualquer lugar da Terra. É enxergar as potencialidades postas e utilizá-las. Deveria ser claro, notório e praticado. Mas é aí que começa a merda... muuuita merda. Vamos lá:

No Brasil - e em alguns lugares TAMBÉM socialmente frágeis - convencionou-se utilizar da uma biltre e manipular noção de extrema pobreza sócio-ambiental sobre o Semi-Árido. Adjetivos do tipo "pobre de vida", "inóspito", "rincões" e "terra fodida" são historicamente utilizados (a primeira muito utilizada pelas pessoas espirituosas, a segunda pelos filósofos, a terceira pelos políticos e radialistas, e a quarta por alguns/mas imbecis  nas redes sociais). Era como se todos/as devêssemos correr de lá por causa dos fenômenos da natureza, a destaque para a seca. E muitos/as o fizeram. As pessoas que permaneceram e permanecem por lá nos provaram que é possível sobreviver neste suposto "lugar inóspito". Sofreram o "pão que o diabo amassou", mas o problema não foi ambiental, e sim social... e POLÍTICO. Uma estrutura social que mais lembra o Feudalismo que o Capitalismo se instaurou desde os primórdios da colonização portuguesa., com a idéia de que o interior deveria dar a carne para a elite canavieira do litoral, e o que sobrasse para os trabalhadores escravos desta. Latifúndio na veia! Essa foi a tônica durante muito tempo. Mas tinha o "além-gado", tinha gente por lá, pessoas. Hehehe, nós sertanejos temos antepassados, não viemos da cegonha (pelo que se escuta, é como se acreditassem nisso...). Dessas pessoas, tirem os latifundários e suas famílias, um ou outro profissional liberal (delegado, bancário, babão-mor do prefeito, prostituta vip... e o fiscal de tributos, claro...). Sobrou todo o restante! A grande maioria era "trabalhador/a da roça". Dessas pessoas, algumas eram/são muito engenhosas. Desenvolveram experiências práticas em seus cultivos próprios, com a nobre intenção de melhorar suas presenças em vida. Isso foi sendo passado por gerações e sendo otimizado a cada momento da vida social desses indivíduos. Os bancos comunitários de sementes, a infinidade de defensivos naturais, as barragens subterrâneas, CISTERNAS... "n" estratégias de CONVIVER com os limites impostos pela natureza. E não precisavam das bençãos do coronel, do padre e/ou do governo. Faziam com o pouco material que dispunham. Em paralelo a isso, os governos, TODOS ELES, cuidaram de dar mais poder ($$$) aos donos da bodega (aliás, da fazenda, que, afinal de contas, acaba sendo o dono da bodega). O cara tinha uma fazenda, grande, enorme, e por razões óbvias ($$$) era o dono do lugar e comandava tudo. Misture poder político, econômico e cultural e você tem uma uma sólida fossa intransponível. Um oceano de bosta.

Falando novamente de bons cheiros, voltemos às tais experiências práticas. Pois bem, com o passar do tempo essas idéias ganharam a atenção de pessoas bem letradas, teoricamente bem qualificadas e POLITIZADAS o suficiente, cientes de que toda a engenharia social predominante é montada para manter a estrutura social já mencionada, que sofreu mutações a partir do desenvolvimento do capitalismo in terra brasilis. Essa galera percebeu que com ORGANIZAÇÃO, PLANEJAMENTO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL a coisa vai para a frente. Compreenderam que a história pode (e deve!) ser interferida. Que as "bençãos" dos eternos patrões não dão juízo de valor e não importam para a condução de suas vidas. Dessa ORGANIZAÇÃO, PLANEJAMENTO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL nasceu a ASA, composta desses experimentadores e teóricos (intelectuais), com algumas novas experiências e conceitos. Da ASA nasceu um fantástico projeto, O PROGRAMA DE FORMAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL PARA A CONVIVÊNCIA COM O SEMI-ÁRIDO: UM MILHÃO DE CISTENAS). A idéia é construir um milhão de cisternas no semi-árido brasileiro e PROPAGAR TODA ESSA HISTÓRIA COM AS FAMÍLIAS BENEFICIADAS E COM TODA A SOCIEDADE. Nada aqui se mostra na TV...

O governo saca bulhufas dessa história. Portanto, nada melhor que um fórum bastante participativo no semi-árido como a ASA para tomar conta. Com toda a lógica já mencionada e detentora da tecnologia de produção da CISTERNA DE PLACA, A ASA multiplicou este conhecimento semi-árido adentro (ou seria afora???). Dai surgiram uma infinidade de pessoas qualificadas para construir as cisternas. Na base da pirâmide sócio-econômica isso se constitui num considerável choque. E a lição de cidadania se fortalece com o estágio de vivência que se tira daí. Todos participam do processo, do coordenador executivo do projeto à família beneficiada. Só que a ASA não fabrica dinheiro. O governo fornece o "dim-dim" pra coisa rolar. Uma atitude louvável, diria, nossos impostos sendo bem empregados e tal. Mas é justamente aí que temos outro problema, outra merda, outro oceano de bosta:

Nosso governo possui em sua composição pessoas que compreendem esta história política, militaram nela. Beleza, alguns mostraram quem na verdade são, usurpadores de mão cheia, lobos na pele de cordeiro (e isso é um insulto aos lobos e aos cordeiros!). Mas vamos falar dos bem intencionados... ainda existem por aí. Eles dividem sob uma razão nada proporcional o comando do governo com seres já lembrados ($$$). Esses caras continuam casando, batizando, cagando e andando com o poder político. A estrutura já dita não se alterou, pelo contrário, continuou a mesma. As pessoas ditas, os bem intencionados, fazem algo e aliviam as agruras do "Sisti", o monstro (apelido carinhoso dado por Raul Seixas). Como nossos monstros estão em baixa ultimamente precisam do "deus" mercado para sobreviver. Portanto, vamos matar dois coelhos de uma só vez! Matamos todas as perspectivas contrárias a nossa indústria (no caso, a indústria da seca) e socorremos os amigos (no caso, a indústria propriamente dita) da crise do capitalismo recente. Dessa última não me deterei por falta de saco e por ser de domínio público seus estágios de "estafa". É no mínimo bizarro (pra não dizer escroto) ver os comentaristas de economia nos telejornais falando que "o mercado não reagiu bem a isso ou aquilo outro". Soa humano. Se constitui num "ser" para eles... e assim é tratado. Um ser humano nos tempos de crise, que precisa ser remediado, ou uma entidade divina em tempos de "prosperidade".

Comecei o parágrafo anterior dizendo que o governo saca bulhufas. Melhor dizendo - e pior ficando, SACA ATÉ DEMAIS...




PS - Tem muita história aí no meio que daria mais um 500 posts... fico por aqui.

MINHA SOLIDARIEDADE AO TRABALHO DA ASA E A TODOS E TODAS QUE VESTEM A CAMISA DA CONVIVÊNCIA COM O SEMI-ÁRIDO!

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